quarta-feira, dezembro 20

A decisão pela Vida...

Na vida há momentos em que somos chamados a colocar em cima da mesa, os argumentos que sustentam a “coluna vertebral” da nossa existência. Quando somos confrontados com questões de ordem moral versus apetências pessoais, sentimo-nos frágeis, divididos e muitas vezes incapazes de manter um discernimento correcto. Quando nos bate à porta, não sabemos como responder…se com o coração ou a razão! Parece que o corpo nos leva para o mais fácil, mas a mente para o mais exigente.
Mas se isso acontece, e quando estão em jogo a vida de duas pessoas, não há nada que possa afirmar que os nossos valores de vida não são os mais importantes, e por isso vale a pena dar a possibilidade para que exista sempre Vida.

terça-feira, dezembro 19

A Verdade.... da Vida!

Se há algo que me impressiona em algumas pessoas, é a sua capacidade para que tudo o que se passa à sua volta seja vivido com Justiça, Verdade e Amor. São pessoas que não deixam que se diga mal dos outros, principalmente se são seus amigos, não gostam de ver os mais desprotegidos a serem colocados em situações de inferioridade e sentem pelos outros um grande carinho.

No entanto, existem algumas pessoas, que tendo aparentemente essas características, no seu dia-a-dia mais íntimo, vivem como se fosse uma vida dupla. Não amam aqueles que mais deviam, tendem a encontrar o seu equilíbrio noutro lugar, não mentem, mas também não dizem a verdade.

Será porque não sabem, que nunca se é tão feliz ou tão infeliz como se imagina?

Enganar: é a forma mais vil da mentira, a ruptura mais cobarde dos laços de amizade e de confiança com os outros. A simples verdade é sempre a defesa mais segura, a espada mais penetrante, o caminho mais recto para o fim em vista (Gandhi).

Aquele que procura isolar-se, através da mentira, terá, cedo ou tarde, razões mais que validas para se isolar.

Por mim não tenho dúvidas que todo aquele que pretender contentar os seus maus desejos, satisfazendo-os, é como querer apagar um grande incêndio com palha e gasolina.
O que importa na vida, não é tanto o lugar onde vivemos, é mais a direcção que tomamos

terça-feira, dezembro 12

Ser de Esquerda é ser Pela vida ……

Divulgamos o texto integral da intervenção de Cláudio Anaia no XV Congresso Nacional do Partido Socialista.

Caro Camarada José Sócrates,Caros Camaradas,No que respeita ao ponto 4. "Vencer o referendo e despenalizar a interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas", gostaria de chamar a atenção para o seguinte:
I - Em primeiro lugar, não me parece que esta posição do PS – que admito seja maioritária dentro do "aparelho" – seja respeitadora da diversidade que sobre este assunto existe quer entre a base popular de apoio do Partido, quer entre os deputados que foram eleitos, quer entre os apoiantes do Governo. Julgo que deveria haver mais "espaço" para aqueles que advogam uma posição contrária à legalização do aborto.
II - Em segundo lugar, os argumentos utilizados parecem-me fracos:a) Por um lado, "uma resposta justa e adequada para o doloroso drama vivido por muitas mulheres na sociedade portuguesa", (para utilizar os termos da Moção), não passa necessariamente pelo oferecimento do aborto pelo SNS a quem quer que o peça sem justificação alguma. E, já agora, qual a resposta que se dá às mulheres que abortam às 11 semanas? A "sua sujeição ao calvário judicial", como diz o mesmo texto? Qual é a coerência disto? A nossa camarada Edite Estrela disse em debate televisivo que a " lei deveria ser cumprida logo a partir das 10 semanas e um dia. " b) Por outro lado, todos sabem que o aborto clandestino não vai acabar. Como diz o Prof. Miguel Oliveira da Silva, (apoiante do Sim) "temos que assumir com toda a franqueza que o circuito clandestino não vai acabar. As clínicas que fazem abortos ilegais não vão deixar de os fazer. c) É preciso dizer de forma clara que o que se propõe é mesmo uma liberalização totaldo aborto até às 10 semanas. Não adianta fingir. O que se propõe é o aborto livre, universal e gratuito, a pedido da mulher, até às 10 semanas. Toda a gente percebe isto.
III – Os defensores da Liberalização defendem que " não querem que as mulheres sejam presas " . Na verdade em 30 anos de Democracia nunca nenhuma mulher foi presa. E esta questão será resolvida quando a nova revisão do Código penal for aprovado que prevê que as penas até três ano de cadeia não sejam cumpridas efectivamente.
IV – Acho que o papel do estado deveria ser de responsabilidade e de apoio às mulheres com dificuldades e ajuda – las a ter os seus filhos. Para mais, num país e numa Europa cuja a taxa de Natalidade está muito em baixo.
V- Por fim, custa-me que o PS entregue à Direita a causa do respeito e a defesa pela vida, e ande a reboque do BE e do PCP. Porque a esquerda humanista, em que eu acredito – cuja tradição é precisamente a defesa dos mais débeis e vulneráveis – deveria estar na primeira linha na promoção desse valor, em vez de contribuir para a banalização do aborto. E a banalização do aborto é o triunfo dos mais fortes sobre os mais fracos e indefesos, que são – mais que ninguém – os não nascidos, a quem se nega o seu primeiro direito: o de nascer. Não esqueço as palavras do nosso amigo e saudoso Prof. Sousa Franco : "A legislação do Aborto Livre é a passagem de uma fronteira. Essa não é a sociedade humana que sempre idealizei (…)"
(O Delegado ao XV Congresso Nacional o Partido Socialista Cláudio Anaia)

A longa epopeia dos direitos humanos

Por decisão soberana das nossas autoridades iremos nos próximos meses acumular às nossas muitas preocupações a discussão da questão do aborto. Trata-se de um tema polémico em que a sociedade está dolorosamente dividida, com razões fortes dos dois lados. Mas, ao mesmo tempo, devemos lembrar que esta discussão de valores básicos e vitais constitui uma longa tradição na civilização moderna. Embora neste caso com duas diferenças importantes.Os últimos séculos do mundo ocidental incluem uma sequência de debates deste tipo. Há 200 anos discutiam-se os privilégios da nobreza e a igualdade perante a lei; há 150 lutava-se contra a escravatura e a pena de morte; há 100 anos debatiam-se os direitos das mulheres e a democracia; há 50 a igualdade das minorias étnicas, dos judeus aos negros. Muitas vezes estes assuntos arrastaram-se, pelo que todas as gerações recentes se encontraram divididas por temas fundamentais. A discussão do aborto e outras conexas - eutanásia, droga, casamento, família - toma hoje o lugar de velhas lutas.Não faltam os que, precisamente por isso, consideram o combate pela liberalização do aborto como o próximo passo na longa e majestosa epopeia de afirmação dos direitos individuais. Esses consideram os que se lhe opõem como relíquias obscurantistas e retrógradas que serão pulverizadas pela simples passagem do tempo. Mas a realidade é precisamente a inversa.Os termos da discussão são claros. De um lado temos os que defendem um princípio fundamental. Antes era a igualdade de todos os cidadãos, o direito à vida dos condenados ou à liberdade dos escravos. Hoje é o direito à vida do embrião. Confrontando esta posição simples e fundamental, o outro lado apresenta uma enorme quantidade de interesses particulares. Os antigos absolutistas, esclavagistas, racistas e totalitários diziam proteger velhas tradições e privilégios, benefícios económicos concretos, vantagens comunitárias específicas. Contra esses, a luta pelos direitos fundamentais sempre se baseou na tese de que a conveniência sócio-económica de alguns não podia justificar a angústia, escravização ou morte de outras pessoas. Foi sempre assim que se combateu a opressão e discriminação.Hoje, do mesmo modo, alguns invocam a conveniência sócio-económica para liberalizar o aborto. Esses falam de múltiplos temas e aspectos, dos julgamentos de mulheres às práticas clandestinas, passando pela desigualdade social. Têm razão em muito do que dizem. Mas contra eles está apenas a superioridade do direito fundamental à vida. Os abortistas, ao negarem o igual estatuto humano ao embrião, fazem precisamente o mesmo que os antigos racistas e esclavagistas faziam às suas vítimas. Pelo contrário quem defende a vida dos mais fracos, daqueles que não se podem defender nem têm voz na sociedade, são os que querem manter a proibição do aborto.Existem, porém, duas enormes diferenças neste debate que merecem destaque. A primeira é que desta vez a discussão pretende ser feita por vias legais. Antigamente o combate pela liberdade e igualdade desenrolava-se na sociedade, mas a luta pelo aborto parece fazer-se pela convocação de um referendo. Todos fingem que uma votação vai decidir a questão. Depois, como se viu há oito anos, nada fica resolvido, porque o problema não é regulamentar, é humano. Mas as autoridades insistem na mesma via, convencidas ingenuamente de que assim se arruma o caso.A segunda diferença é que antigamente quem lutava pelos direitos básicos desafiava a lei estabelecida. Eram os códigos milenares que estabeleciam os interesses da aristocracia, a abjecção dos escravos, a humilhação da mulher e das minorias étnicas. E foi a luta social que mudou esses pergaminhos. Mas, desta vez, a lei nacional prescreve há muito tempo o direito à vida de cada ser humano desde a sua concepção. Assim, a defesa do direito fundamental faz-se dentro do quadro legal, e são os que o querem atacar, por razões de conveniência sócio-económica, que desejam alterar a lei. Este último ponto é muito significativo. Ele mostra como, ao contrário do que se afirma, este confronto não representa um passo na majestosa luta pela afirmação dos direitos individuais. O que está em causa não é alargar os direitos, mas reduzi-los. Liberalizar o aborto, mesmo por razões compreensíveis, destrói sempre um valor muito superior. A luta é pois para evitar um primeiro recuo na trajectória civilizacional dos direitos humanos.

(João César das Neves Professor universitário)

segunda-feira, dezembro 4

Teimosas Ambiguidades....

A questão da despenalização da interrupção voluntária da gravidez traz consigo profundas e teimosas ambiguidades. Para começar, a palavra “interrupção” está desprovida de qualquer sentido. Quando alguém entra numa sala e interrompe uma reunião não significa necessariamente que tivesse acabado com ela. Apenas houve um breve intervalo. Ora, o aborto (ab-ortus que significa não-nascido) não é de maneira nenhuma uma interrupção, antes pelo contrário é um fim qualificado de um homicídio antecipado. Dirão: mas quem é que matamos pelo aborto? E aqui vem a matematização do desenvolvimento humano. De facto, o aborto mata um ser humano inocente e indefeso, com uma dignidade e um direito à vida que devem ser respeitados. Mais do que um ser humano, estamos na presença de um ser pessoa.Bom, mas porque estamos diante de dois paradigmas, resta-me perguntar: afinal, o que é o ser pessoa? Existe algum critério de demarcação do ser humano e do ser pessoa? Haverá seres humanos que não são pessoas? Existe, de facto, algum momento preciso que nos garanta esta mudança? A “pessoa” é um sujeito autónomo capaz de se relacionar gradualmente e de forma dinâmica com o outro. Este “eu” faz-se diante de um “tu”. E isto acontece, inegavelmente, com um feto, tenha ele oito semanas, nove meses ou dois dias.Aonde começa a vida? Cientificamente está comprovado que no momento da fecundação do óvulo, nasce uma nova célula viva pertencente à espécie humana. Dela poderá vir outra realidade senão a do ser humano? Poderá inesperadamente evoluir para uma borboleta? Mas mesmo que houvesse dúvidas, porquê optar pela morte e não pela vida?Desejamos liberdade mas mais uma vez não estamos dispostos a pagar o elevado preço que nos é pedido: a responsabilidade amadurecida.Termino com um excerto de um artigo de João César das Neves publicado no Diário de Notícias de 2004: “Suponha que estava pacificamente a almoçar num restaurante e alguém o vinha insultar porque, ao deitar fora os caroços da sua fruta, está a destruir árvores antes de nascerem. Evidentemente que ficaria surpreendido com a acusação. É verdade que a laranja é a forma de reprodução da laranjeira. Mas ali a fruta não é semente, é sobremesa; o caroço não é uma futura planta, é apenas um incomodo na refeição. Assim se entende a indignação dos defensores da liberalização do aborto. Que do divertimento no sexo resulta um embrião que não é mais do que um percalço desagradável que, tal como o caroço, deve ser removido de forma higiénica e expedita.”

(Nuno Branco in Toque de Deus)

domingo, dezembro 3

O "Sim" à Renascença


Não há órgão de comunicação social no interior da esfera a que se costuma designar de "referência" que não exalte a sua isenção e independência. Mas entre os estatutos editoriais bem intencionados, mas que a maior parte dos jornalistas que trabalham nas redacções provavelmente nem conhecem, e a prática quotidiana, há problemas. O contrato tácito celebrado entre os jornalistas e os leitores, exigindo distanciamento e serenidade por parte dos jornalistas, é torpedeado com mais frequência do que aquela que seria aceitável. Numas ocasiões por omissão, noutras por acção. Em certos casos de forma involuntária, noutros intencionalmente.É nas situações em que, na opinião pública, as águas se separam com mais nitidez que se podem detectar mais facilmente as violações àquele acordo. Pela abordagem dos assuntos, pelos pontos de vista escolhidos, pela concentração do foco neste ou naquele detalhe, pela secundarização de alguns aspectos em relação a outros, um leitor atento pode perceber se as convicções pessoais do jornalista ou de quem edita a informação perturbaram o equilíbrio da informação a que lhe é dado acesso. Estes são os riscos do chamado "jornalismo de causas", em que uma qualquer militância pode chocar de frente com a perseguição da objectividade que, mesmo em circunstâncias complexas, não deve ser perdida de vista quando se trata de preencher espaços informativos. A discussão sobre a interrupção voluntária da gravidez, que vai estar em crescendo nas próximas semanas à medida que se for aproximando a data de realização do novo referendo, é um dos terrenos escorregadios em que será provavelmente simples detectar falhas. Há argumentos fortes e de ambos os lados e, como se viu em situações anteriores, a incapacidade de qualquer um dos lados em convencer plenamente os partidários do sector contrário faz com que, a partir do impasse, a emotividade se sobreponha ao raciocínio ponderado. Os jornalistas não são indiferentes a estas e outras questões, mas reivindica-se que sejam diferentes dos restantes cidadãos no que toca a travar a força das emoções em favor da produção de informação que ajude, de facto, a explicar o que está verdadeiramente em causa, para lá da propaganda e dos sound bytes.Em casos como este, o pior serviço que se pode prestar à credibilidade é o de fingir que se é isento, ao mesmo tempo que se edita a informação de acordo com as próprias convicções. A hipocrisia paga-se caro, enquanto a clarificação, necessitando de coragem e capacidade para correr riscos, pode ser um trunfo. Não se percebe, por isto, por que motivo o Sindicato dos Jornalistas decidiu causticar a Rádio Renascença pelo facto de a estação de rádio ter anunciado ser favorável ao "não" em matéria de referendo sobre o aborto. Principalmente quando o silêncio desta estrutura em relação a muitos outros aspectos do exercício do jornalismo e da confusão entre estas funções e tarefas de natureza partidária é ensurdecedor. Ao contrário do que pensa o Sindicato dos Jornalistas, a iniciativa da Rádio Renascença merece ser elogiada. Revela que os seus responsáveis não dissimulam aquilo em que acreditam e, também, que não têm medo de passar pelo exigente teste da credibilidade que consiste em abrirem o jogo quando têm pela frente uma campanha para o referendo que exige jornalismo feito com critério. O cinismo reinante colocará a Renascença sob um rigoroso escrutínio durante o período de debate e campanha para o referendo, que certamente não será estendido aos restantes órgãos de comunicação social. Se considera que uma atitude destemida como esta é criticável, o Sindicato dos Jornalistas tem de fazer um exame de consciência e corrigir o tiro. Resta apenas uma dúvida: que diria o conselho deontológico se a declaração de apoio fosse dirigida ao "sim"?
J. Candido da Silva
Publico, 061202

A Esquerda e o Aborto...



A esquerda e o aborto

Jacinto Lucas Pires
DN061201


Já se sabe que a questão do aborto é "complexa", "transversal" e que as habituais cartilhas políticas não bastam para indicar respostas. Ainda assim, devo dizer que estranho muito não haver, à esquerda, mais defensores do "não" no referendo. De facto, e tirando talvez alguns dos chamados católicos progressistas, não se vê ninguém. Estranho-o porque, se há ainda algo capaz de distinguir a esquerda da direita, isso devia ser a vontade de uma real transformação da sociedade e do mundo - contra os realismos-pessimismos que, no fundamental, se satisfazem com o estado de coisas vigente. Ora, tal implica, antes de mais, não capitular perante a "tragédia do facto consumado".Por outro lado, é óbvio que esse "sonho concreto" da esquerda tem de assentar em princípios básicos de humanidade e justiça - e estes não podem deixar de começar pela protecção da vida humana.Ao invés, as esquerdas (por uma vez, todas juntas, dos centros às margens...) cedem ao facilitismo do sim-porque-sim. Paradoxalmente, erguem o aborto a "causa" pós-ideológica, enquanto se rendem à lógica utilitarista (e direitista) que tende a ver o direito como mera regulação técnica de realidades existentes e o mundo como um palco onde são possíveis breves oscilações mas jamais verdadeiras mudanças.Leia-se Pasolini: "(...) A propósito do aborto, é o primeiro, e único, caso em que os radicais e todos os abortistas democráticos mais puros e rigorosos fazem apelo à realpolitik, e assim recorrem à prevaricação 'cínica' dos factos consumados e do bom senso. (...) Reduzem-no a um caso de pura praticidade, a encarar exactamente com espírito prático. Mas isto (como eles bem sabem) é sempre condenável."No Portugal de 2006 é claro que deve ser encontrada uma solução melhor do que a actual, e que nenhuma mulher deve ser humilhada em tribunal por uma decisão terrível e íntima de que só ela conhecerá as circunstâncias exactas - mas cair neste extremo da liberalização total não será um erro maior? E, para a esquerda, não equivalerá o "sim" à aceitação tácita de um sistema de injustiça e desigualdade de oportunidades?Não será assim que a esquerda desiste definitivamente de si própria e aceita, afinal, ser só mais uma peça no jogo do conformismo, do pessimismo, do "politicamente correcto"?

quarta-feira, novembro 29

Talvez

Compreende-se que quem proclama não haver mais nenhuma solução [além da despenalização do aborto], mas nada faz para que haja, proclame também que antes das dez semanas não há vida humana. O que há então?
Em todas as campanhas do aborto, e já vamos na terceira, há sempre momentos em que a intolerância dos exaltados vem ao de cima. Do lado do "sim" no próximo referendo, o texto de Madalena Barbosa "A prisão e o aborto" (PÚBLICO, 22/11/06) é um desses momentos. Não vou perder muito tempo com os impropérios da autora, "especialista em igualdade de género" (novo título, ao que parece, das feministas radicais de sempre). Lembro apenas a insinuação grotesca de que "os movimentos pró-vida têm boas estratégias, importadas talvez dos Estados Unidos, onde usaram o terrorismo para tentar acabar com os direitos das mulheres" através de "centenas de atentados bombistas e assassinatos". Seria matéria para os tribunais e não para os jornais. Mas os argumentos em defesa da liberalização do aborto merecem resposta, sobretudo por serem tão repetidos. Comecemos pelo princípio. "O aborto é mau" e quem o faz "renuncia por vezes a uma criança que até desejaria ter, se pudesse". Mas não pode porque, com filhos, "não arranja emprego, não progride na carreira, vai trabalhar mais por menos remuneração, não tem casas apropriadas, não tem creches, não tem tempo para estudar, não pode fazer os horários extraordinários que agora exigem aos técnicos licenciados". Sabendo embora que há mais mulheres do que as licenciadas, concordo inteiramente. Vejo tudo isso em minha casa. O que eu não vejo é a mesma energia por parte dos defensores do "sim" para combater os males que tão oportunamente denunciam. Não conheço estudos de "especialistas em igualdade de género" sobre a discriminação das mães no mercado de trabalho. Não recordo nenhuma iniciativa legislativa dos partidos que propõem a liberalização do aborto para diminuir o IRC sobre as fraldas. Não vislumbro a mais leve preocupação do Governo em cobrir o país com uma boa rede de escolas e maternidades. Pelo contrário: só vislumbro a óbvia solicitude em fechá-las, ao mesmo tempo que anuncia ir comparticipar abortos em clínicas privadas. Para estes paladinos dos direitos das mulheres, o aborto é a única solução, o anticonceptivo que nunca falha. Nada mais têm a oferecer-lhes além do "aborto nas primeiras dez semanas, quando a vida humana ainda não o é".Compreende-se que quem proclama não haver mais nenhuma solução, mas nada faz para que haja, proclame também que antes das dez semanas não há vida humana. O que há então? Vida piscícola, já que o feto vive dentro de água? E por que súbito milagre, decretado pela Assembleia da República, passa a haver vida humana depois das dez semanas? Estes malabarismos conceptuais mostram bem o que procura o "sim" no referendo: a liberalização do aborto e não a sua despenalização. Leia-se a pergunta que vai a votos. As únicas condições para permitir a prática de aborto até às dez semanas são a "opção da mulher" e a realização da cirurgia "em estabelecimento legalmente autorizado", público ou particular. O aborto passa a ser totalmente livre e, mais do que isso, um negócio subsidiado pelos nossos impostos.No intuito de desviar as atenções de coisas tão óbvias, os defensores da liberalização costumam invocar o aborto clandestino, por um lado, e as "marcas psíquicas de uma gravidez forçada", por outro. Omitem, porém, as marcas - psíquicas e não só - que um aborto, clandestino ou legal, deixa sempre nas mulheres. E omitem que em todos os países que abriram as portas à liberalização o número total de abortos aumentou exponencialmente. Há hoje uma alarmante quantidade de dados empíricos que provam isso.E isso é o que devemos discutir, não os "talvezes" delirantes de uma "especialista em igualdade de género". Quando o nível desce da inverdade dos factos para a calúnia das pessoas, já não é o aborto, ou a vida, ou os direitos das mulheres que estão em causa, mas a mera possibilidade de convivência democrática. Talvez Madalena Barbosa não queira esse debate. Talvez não queira a liberalização do aborto, mas a do insulto. Talvez queira apenas eliminar a diferença - primeiro a de género, depois a de opinião.Talvez.

(Pedro Picoito Apoiante da Plataforma Não Obrigada e membro do Blogue do Não)

quarta-feira, novembro 22

A Morte

Poderá parecer estranho que num espaço dedicado à vida se fale da morte. No entanto quando se fala de uma IVG, fala-se de um acto que vai levar à morte de um ser vivo.

Os que defendem esta estranha maneira de matar, parece que querem afirmar que é natural que os outros morram, mas gostava de saber se quando pensam na sua própria morte, não acham que é um bocado forte. No entanto, matar uma criança com 2,5 meses de idade não lhes parece mal.

Enganar: a forma mais vil da mentira, a ruptura mais cobarde dos laços de camaradagem entre os seres humanos… e neste processo de constituição deste referendo há uma grande mentira: querem legalizar uma prática que leva a morte de seres vivos que são crianças indefesas.

Não devemos ter medo dos revezes. No primeiro referendo a população portuguesa soube dizer que NÃO ao Aborto. Porque será que vai mudar de opinião? Um coração sincero esta mais próximo da verdade que o mais dos enriquecidos dos cérebros.

A Decisão...

Aguarda-se com alguma expectativa mas estamos conscientes de que o resultado mais provável é a assinatura, pelo nosso Presidente da República, da aprovação de um novo Referendo sobre o Aborto.
Muito se tem questionado sobre a oportunidade politica e social de se lançar este tema na sociedade portugesa. Para muitos, o resultado do último referendo é suficientemente esclarecedor para que não exista a necessidade de se efectuar outro com um espaço de intervalo tão curto. Para outros, as circunstâncias sociais mudaram e foram feitas promessas politicas sobre este assunto... há que concretizar a promessa!

Numa sociedade democrática temos que aceitar que existem pessoas que querem debater este tema de modo alterar a lei actual mas, paralelamente, também é preciso aceitar a opinião daqueles que não são favoráveis a que a lei seja mudada.

Acontece que um referendo tem especificações próprias que o enquadram numa situação diferente da de um simples acto eleitoral. Em Portugal, o referendo é um instrumento de democracia directa através do qual os cidadãos eleitores são chamados a pronunciar-se por sufrágio directo e secreto, a título vinculativo, sobre determinados assuntos de relevante interesse nacional, mediante proposta da Assembleia da República, ou do Governo, ao Presidente da República que decide da sua realização (pt.wikipedia.org/wiki/Referendo).

Faz todo o sentido que a sociedade civil se organize e que lute pelas suas ideias, sempre no respeito mútuo pela diferença. E, também é importante que cada cidadão, através dos meios que lhe são proporcionados, defenda as suas ideias acerca do tema em debate. Por isso criei o "Sentir a VIda!". É a minha contribuição para participar no debate/campanha sobre a IVG.

Para que não existam dúvidas, sou português, maior de idade, casado e com formação a nível superior. Sou católico convicto e praticante... e amo a vida incondicionalmente.

Espero, a partir de hoje, e durante o tempo que durar este debate, apresentar as minhas reflexões pessoais, opiniões de peritos e imagens que nos possam ajudar a esclarecer melhor o que está em jogo neste referendo: a vida humana!